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quinta-feira, 19 de julho de 2018

Mino Carta e o Inter de 1976: se fosse marciano, não estaria entendendo nada...


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Em 12 de dezembro de 1976, quando o Internacional conquistou o bicampeonato brasileiro e, pela segunda vez, o respeito e a admiração de todo o Brasil ao vencer o Corinthians por 2 a 0 no Beira-Rio, o jornalista Mino Carta – então um dos mais admirados homens de imprensa do País, fundador do Jornal da Tarde, da revista Quatro Rodas, ex-editor da Veja e já então comandando a recém fundada Istoé – escreveu para a Folha de São Paulo uma crônica daquela final que ele julgava “histórica”. Mino Carta pouco entendia de futebol e não costumava se aventurar nesse campo. Mas, depois de assistir à partida entre gaúchos e paulistas, ele garantiu “Se fosse marciano, não estaria entendendo nada” – este o título do seu trabalho, que merece ser transcrito tantos anos depois. O texto é quase literário, faz referências veladas à situação política da época e compara o futebol do Inter com o moderno futebol europeu.
Assim o jornalista descreveu o que viu aquela tarde no Gigante da Beira-Rio: “O calor é tropical mas o panorama que cerca o Beira-Rio, apinhado de elevações bem penteadas, poderia ser europeu. Falta ao cenário deste jogo um toque luxuriante, uma reminiscência, ao menos, de mato desvairado, como talvez conviesse ao supremo conflito das esperanças nacionais. Alguém, leitor de bons livros e frequentador do raciocínio límpido, me dizia ainda ontem que o corintianismo, esse singular e forte sentimento que tomou conta da nação, é a forma mais eficiente de solidariedade hoje no Brasil. Diga-se que se trata de alta autoridade da política situacionista. Pois a oportunidade de pôr à prova essa solidariedade, o momento em que ela é confrontada, talvez merecesse um palco tropical. Em compensação, há muito de surrealismo no clima do estádio e nas bombas e nas bandeiras das torcidas, frenéticas quando a esperança entra em campo. Um marciano ficaria pasmo.”
E prossegue o jornalista: “Mas a torcida colorada não é a do Fluminense, nem Porto Alegre é como o Rio. O Beira-Rio é diferente do Maracanã. O estádio pulsa com os gritos dos homens que são “machos” – e pronuncie a palavra com o sotaque dos pampas. O Corinthians hoje exibe-se numa ribalta muito pouco corintiana.
“E o Corinthians começa tímido, o Inter agride a bola com fúria vermelha. Os colorados estão em todas as divididas. Aos 10 minutos o Corinthians praticamente ainda não saiu do seu campo. Parece um encontro entre o mais recente futebol europeu e o mais tradicional sul-americano. Falcão domina o centro do campo e sua passada lembra Beckenbauer. A defesa corintiana está confusa, a bola filtra nela como um peixe numa rede lacerada. Falcão está em todos os lugares, finta Vaguinho no bico da área, enfia a bola entre as pernas de Romeu e sai com os cabelos ao vento.
Em seguida Mino Carta descreve o primeiro gol do Inter:
“E quase aos 29 minutos vem, inexoravelmente, o gol do Inter. Nasce dos pés de Valdomiro que já foram infelizes no mundial de 74. Mas o seu chute é sempre potente. E uma falta de Zé Maria no onipresente Falcão, que amaciou a sua amada no peito, na boca da área, Valdomiro bate, o tiro ricocheteia na barreira, sobe a bola maligna para a cabeça de Dario e é gol. Onde estão os orixás? Estão chorando, suponho. Mas os deuses da fúria gaúcha sorriem. Voltam a sorrir oito minutos depois, quando o Corinthians perde um gol que parecia decretado. A bola passa por vários pés corintianos, mas ninguém chuta enquanto Manga já está no chão, batido. Os deuses gaúchos estão segurando estas chuteiras lerdas. A torcida corintiana de vez em quando ergue-se e agita as suas bandeiras. Mas esses instantes são cada vez mais raros, nesse primeiro tempo. Nele ficaram evidentes, para mim, duas coisas. Primeira, que Russo é um gladiador tropical, um homem cheio de fé e uma musculatura disforme, talvez porque feita de arroz e feijão. Segunda, porque Falcão não é Rivelino, Falcão é “macho”.
Agora Mino carta descreve o segundo tempo da partida: “Mas no segundo tempo a torcida corintiana e seu time sabem que agora é tudo ou nada. Será que os orixás sabem? Os deuses dos pampas sabem de certo quando desviam de leve a falta cobrada por Romeu e fazem com que a bola se choque com o travessão para que a desdita corintiana seja mais gorda. Em campo há muitas faltas, nas arquibancadas muitos gritos e gestos de raiva e tensão. E numa dessas faltas, na entrada da área corintiana, aos 12 minutos Valdomiro cobra por sobre a barreira e os deuses colorados reaparecem e em tempo abaixam, sempre de leve, a trajetória do chute, e fazem com que bata na parte inferior do travessão, e quique depois dentro do gol, poucos centímetros além da chamada linha fatal. Centímetros? Milímetros, para a desdita alvinegra continuar engordando. Os corintianos protestam, cercam o juiz, e um bolo de gente forma-se numa das extremidades da divisória do campo, e lá se discute, aos berros, aos empurrões, se a bola entrou ou não. Entrou, entrou, a sentença é irremediável, e o bolo se desfaz e o jogo recomeça com dois a zero no marcador.
“Ah, se eu fosse marciano me perguntaria se tanta energia não poderia ser canalizada para outras empreitadas, mais proveitosas do que esta, capaz de criar raivas e alegrias tão grandes, no peito de cada um e de todos, e tão inúteis. E voa uma garrafa em campo e fogos são dirigidos contra o gramado que já não brilha ao sol. No ocaso as garrafas chovem e o jogo para de novo, o campo é invadido por dirigentes, repórteres, alguns assistentes dispostos a pular o alambrado, policiais e seus cachorros. Ah, se eu fosse um marciano não estaria entendendo coisa alguma.
“O vento não agita mais as bandeiras corintianas, talvez elas estejam molhadas pelo pranto dos que vieram até o Beira-Rio e de todos aqueles milhões que neste momento estão diante do vídeo ou com os ouvidos colados em um rádio de pilha, alimentando a mesma fé rigorosamente desperdiçada. Eles talvez estejam anotando um nome, o do bandeirinha que confirmou o segundo gol colorado. Que os fados se compadeçam dele.
“O jogo recomeça mas a sorte está selada. A pressão corintiana serve apenas para mostrar a força dos deuses gaúchos e as habilidades de um velho profissional da bola, o goleiro Manga. O jogo acabou, a solidariedade desfeita se recompõe em torno daqueles que ainda saberão esperar por uma vitória. Não tenho dúvidas sobre o caráter histórico deste jogo. É mais uma derrota de uma antiga e nebulosa esperança. Mas valeria a pena ganhar.”

Frindenreich, o mito, em Porto Alegre, aos 51 anos: outubro de 1953

Arthur Friendenreich, filho de pai alemão e mãe negra, foi o primeiro grande astro do futebol brasileiro e um dos jogadores mais habilidosos de todos os tempos - dizem aqueles que o viram jogar, especialmente no Paulistano e no São Paulo. Nascido em 18 de julho de 1892 - portanto, faria 126 anos este mês - El Tigre - Friendenreich foi um centro-avante de rara inteligência, tendo feito muitos gols entre as décadas de 10 e 30 do século passado, quando abandonou o futebol, já devido à idade e ao fato de não concordar com a profissionalização da atividade. Pertencente à época romântica do "esporte bretão", não ganhou nenhum dinheiro com o futebol, tanto que, ao se afastar dos campos, passou a trabalhar em uma fábrica de bebidas. Morreu em setembro de 1969, morando em uma casa que o São Paulo, clube, lhe havia dado. 
Em outubro de 1953, já com 51 anos de idade, Friendenreich esteve em Porto Alegre, onde assistiu a um jogo do Grêmio contra o Floriano (Novo Hamburgo) e foi alvo de uma série de homenagens. A reprodução acima é da Revista do Globo. El Tigre faleceu em 1969, aos 77 anos

Santos Vidarte, o grande mestre da fotografia



Na foto, Santos Vidarte aparece ao lado do jornalista Flávio Alcaraz Gomes, na última grande cobertura dois dois, feita em 1972, na Transamazônica. A reprodução é do Correio do Povo, em matéria que Alcaraz homenageia o amigo falecido dias antes.

Ele marcou época na imprensa gaúcha e foi reconhecido como um dos mais brilhantes e queridos repórteres fotográficos que já passaram pelo Rio Grande. Seu nome: Santos Vidarte.  Uruguaio nascido na cidade de Durazno a 6 de janeiro de 1911, Vidarte tornou-se um ícone na fotografia a partir de agosto de 1930, quando, com apenas 19 anos, entrou para a Companhia Jornalística Caldas Júnior para dela nunca mais sair, até o instante da sua morte, no dia 26 de junho de 1975, quando tinha apenas 64 anos.
Era uma quinta-feira e Santos Vidarte preparava-se para começar a trabalhar na sua função de chefe do departamento fotográfico do Palácio Piratini, atividade que dividia com o Correio do Povo, onde mantinha-se como supervisor. Também lecionava na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a Fabico. Em tratamento médico havia alguns anos, o veterano fotógrafo insistia em não parar quando, sem nenhum aviso, como um clique final, foi traído pelo próprio coração. Atendido sem sucesso por dois médicos do Palácio, faleceu de fulminante ataque cardíaco, dando fim a uma carreira de quase cinquenta anos que teve muitos momentos gloriosos e muitas, muitas histórias.
Percorrendo milhares de quilômetros de carro, avião, barco ou em lombo de burro, de início com uma pesada câmera americana Speed Graphic e depois com a velha Rolleiflex alemã, Santos Vidarte ganhou notoriedade ao fotografar o afundamento do encouraçado nazista Graf Spee, no porto de Montevidéu. Era a célebre Batalha do Prata, em dezembro de 1939, início da Segunda Grande Guerra. Na Copa do Mundo de 1950, realizada no Brasil, foi companheiro de outro grande mestre, este do jornalismo esportivo: Cid Pinheiro Cabral.
Naturalizado brasileiro, casado com dona Léa Bernardi Vidarte, tinha uma filha, Maria Clara, e outras grandes paixões além da fotografia e da família: a pesca, na plataforma de Cidreira, e a culinária na sua casa da praia. Em uma página no Correio do Povo dominical, inteiramente dedicada ao amigo que acabara de falecer, o jornalista Flávio Alcaraz Gomes escreveu, sob o título A Última Jornada, reportando-se à derradeira grande cobertura jornalística de Vidarte, feita pelos dois três anos antes, na rodovia Transamazônica, empreendimento mal sucedido do Milagre Brasileiro:
“ – Meu Pai e o Arlindo Pasqualini garantiam sempre: - Para companheiro de viagem, ninguém como o Santos.
Diz Alcaraz: “Em tudo o Santos era uma mistura de jovem repórter e de irmão mais velho. Mal clareava o dia e já estava ele de pé, ensinando os cozinheiros do acampamento a nos servir um café igual ao dos grandes hotéis. Ao jantar, ele continuava a nos orgulhar, me orgulhava menos pelos banquetes que preparava do que por sua conversa boa de homem bom.” 
No mesmo domingo, em sua coluna Ribalta das Ruas, o jornalista Antonio Carlos Ribeiro, já falecido, fala do “Tio Santos”, termo carinhoso para descrever um sentimento de carinho e gratidão para com o grande mestre: “Há sujeitos que marcam sua passagem, e o velho e querido tio Santos foi um deles. Ensinou-nos a nadar, a pescar e, principalmente a fazer as coisas “bem-feitamente”. Pouca gente terá sido tão fraternalmente amada. Ele exercia sobre nós uma liderança natural e tranquila e sabia como poucos tornar inesquecível uma foto, fosse do afundamento do Graf Spee, fosse de uma nuvem de gafanhotos ou de uma criança brincando na areia. Fez isso por quase 50 anos, com rara vitalidade e infinito amor”.
Sepultado no cemitério ecumênico João 23, o mestre Santos Vidarte teve, afinal, as honras que mereceu com sobras. Um público numeroso foi ao cemitério prestar sua homenagem ao grande ícone da reportagem fotográfica. Estavam lá o governador Sinval Guazeli, o seu vice Amaral de Souza, o ex-prefeito e duas vezes governador do Rio Grande do Sul Ildo Meneghetti, o cardeal-arcebispo de Porto Alegre, Dom Vicente Scherer, a direção da Companhia Jornalística Caldas Júnior, deputados, vereadores, professores, colegas jornalistas e fotógrafos e muitos admiradores. O mito do futebol gaúcho, Tesourinha, que Santos Vidarte tantas vezes fotografara, era um deles. Naquele dia, de luto, a Câmara Municipal de Porto Alegre suspendeu sua sessão. Entre os convites para o enterro publicado nos jornais daquela sexta estava o do Clube de Pesca Anzol de Ouro, do qual fora presidente e sócio-fundador. Assim era Santos Vidarte, homem simples, leal e talentoso.

Grêmio é campeão de 1960 goleando o Pelotas por 7 a 0

Em 8 de fevereiro de 1961 o Grêmio e o Pelotas, de Pelotas, fizeram a final do campeonato gaúcho de futebol do ano de 1960, que, naquela época, era disputado por regiões, com quatro finalistas - o Grêmio, primeiro da Região Metropolitana, o 14 de Julho, de Santana do Livramento, classificado pela região da Fronteira, o Nacional, de Cruz Alta, da região da Serra, e o Pelotas, representando o Litoral. No dia 8 de fevereiro, no estádio Olímpico, o time da capital aplicou a implacável goleada de 7 a 0 no Pelotas, sagrando-se campeão do Estado. Gessy fez três gols, Juarez dois, Élton um e Cardoso também um. O tricolor formou com Henrique, Sérgio, Airton Pavilhão e Ortunho; Élton e Enio Rodrigues; Cardoso, gessy, Juarez; Milton Kuelle e Vieira. O técnico era Osvaldo Rolla. Airton, que faleceu em 3 de abril de 2012, foi considerado por Pelé o maior zagueiro que ele viu jogar em todos os tempos. O título de 60 era o quinto estadual enfileirado pelo tricolor - campeão de 56, 57, 58, 59 e o de 60. O título de 56 foi vencido contra o mesmo Pelotas, vice estadual.

Cardeal, o craque que jogava sem um pulmão



Cardeal, não jogou na dupla Grenal.


Fonte principal: Google - Internet básica
Cardeal foi um dos maiores jogadores do futebol gaúcho – isso na época romântica, em que o profissionalismo mal iniciava no esporte brasileiro. Nascido em Santa Vitória do Palmar a 7 de novembro de 1912, Sezefredo Ernesto da Costa era atacante e ganhou o apelido de Cardeal pelo fato de jogar com um gorro vermelho. Cardeal – assim como o grande Lara, do Grêmio – morreu de tuberculose, em Montevidéu, em 4 de agosto de 1949, com apenas 36 anos de idade, depois de ter passado por muitos clubes, pequenos e grandes – o Nono Regimento, clube pelotense de origem militar de Pelotas, rebatizado de Farroupilha  em 1941, o Brasil de Pelotas, o São Paulo de Rio Grande, o Fluminense do Rio e Nacional de Montevidéu, entre outros.
Naqueles tempos não havia campeonato brasileiro de clubes, até pelas dificuldades de deslocamento em um Brasil primitivo e sem rápidos meios de transporte. Mas Cardeal, vice campeão brasileiro de 1936 pelo selecionado gaúcho (em uma decisão contra os paulistas em que, dizem os gaúchos, o árbitro deu uma mão ao pessoal da terra da garoa), foi convocado pelo técnico Ademar Pimenta para disputar o sul-americano de 1936, o que chamou a atenção dos uruguaios do Nacional, que o contrataram no ano seguinte. Em 1939 foi para o Fluminense, retornando para o Regimento de Pelotas menos de dois anos depois, clube pelo   qual ganhou o histórico título estadual de 1935, o ano festivo das comemorações do centenário farroupilha. A decisão foi contra o Grêmio, em Porto Alegre, e Cardeal fez dois gols na vitória de 2 a 1 contra a equipe tricolor.
Segundo a lenda, Cardeal só tinha um pulmão, já que o outro havia sido extraído quando se descobriu tuberculoso. Mesmo assim ele jogava e se impunha na grande área – era o que se chama hoje de “matador”. Parou de jogar em 1943 e faleceu em Montevidéu, com toda assistência médica que lhe ofereceu o Nacional, onde também brilhou.
A fonte básica desta pesquisa inicial é o buscador do Google. A parte abaixo é pesquisa nossa.
Em janeiro de 1976, em uma das suas crônicas dominicais na coluna Esporte Especial do Correio do Povo, Cid Pinheiro Cabral contou uma pitoresca historieta envolvendo esse craque do passado, que reproduzimos aqui na íntegra e que se chamava “Dali, Cardeal não errava...” .
Conhecido é o episódio do Carruíra, em Rio Grande, na década de 30. Atirando um pênalti contra o Botafogo, raspando a trave, mas pelo lado de fora, teve-o transformado em gol, sob a desculpa de que “Carruíra nunca errou nem errava um bola daquelas...”
Agora recebo do advogado Afif Jorge Simões Filho, de São Sepé, o relato de outro episódio envolvendo Cardeal – que aí vai como nos chegou.
“ – Há poucos dias esteve aqui em São Sepé, fazendo-nos uma visita, o distinto advogado de Bagé, Dr. Edgar Pinto, torcedor doente e alto prócer do Guarani. Contou-nos fatos interessantes do futebol bajeense, desde 1939, quando, guri, começou a frequentar os estádios da sua terra.
Esta aconteceu em Bagé, segundo relata o dr. Edgar, no início da década de 40 (1941 ou 42, por aí), quando o Farroupilha de Pelotas foi ali disputar um amistoso com o Guarani, levando como grande atração o inesquecível Cardeal já em fim de carreira, com um pulmão só e capacidade para jogar apenas um tempo, a pau e corda. Apitava a partida o ex-craque do próprio Guarani, conhecido por Gancho.
Ao terminar o primeiro tempo, ganhava o Guarani de 1 a 0. Faltando uns 30 minutos para o final, o Farroupilha apelou para o seu grande trunfo: colocou o Cardeal em campo para equilibrar (ou desiquilibrar) a partida. O Cardeal (e o sr. o viu jogar muitas vezes, certamente) dava a impressão de ser etéreo, imaterial, tal a facilidade e leveza com que passava pela zaga. Em fim de carreira, não tinha sequer força para grandes chutes, mas fazia o seu carnaval com a bola nos pés. Lá pelas tantas, pega a bola e derruba a dribles toda a defesa do Guarani, enquanto o árbitro Gancho, de apito na boca, segue atentamente o lance. Quando o Cardeal ficou na cara do goleiro, ouviu um tremendo apito e parou a jogada, pisando em cima da bola. Voltou para interpelar o Gancho, inconformado:
- Pomba, gancho, no hora em que eu ia fazer o gol, tu apitas.
- Olha, Cardeal, foi uma coisa estranha que aconteceu. Eu fiquei tão emocionado com a tua jogada que apitei sem querer. Foi um apito bobo que saiu da boca sem qualquer motivo. Mas podes ficar tranquilo: o gol não saiu... mas valeu!
E apontou o centro de campo, para nova saída. Os jogadores e a diretoria do Guarani cercaram o juiz, protestando aos gritos:
- É um absurdo! Onde é que estamos!
O Gancho argumentava:
- O gol estava quase feito, era só chutar.
Mas o pessoal do Guarani não se conformou:
- É um absurdo! O Cardeal podia chutar fora ou por cima, o goleiro podia defender...
E o Gancho, imperturbável:
- Vocês não conhecem o Cardeal... Joguei anos ao lado dele e contra ele, e gol como aquele ele nunca perdeu. Não haveria de ser hoje que iria perder...
E o jogo terminou empatado, apesar de todos os protestos do Guarani.