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domingo, 5 de agosto de 2018

Aniversariantes de 5 de agosto: Enciso faz 44 anos





Hoje o jogador Júlio César Enciso, ex-Inter, completa 44 anos. Já a atriz Nathalia Timberg faz 89. E hoje o diretor John Huston faria 112 anos. No dia de hoje, em 1955, falecia Carmen Miranda. E, em 1984, o ator Richard Burton.

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Nena e Adãozinho no time convocado para a Copa do Mundo de 1950 no Brasil.

Na Copa do Mundo de 1950 o Rio Grande do Sul foi representado por dois jogadores do Sport Clube Internacional - Nena, zagueiro, e Adãozinho, atacante. Nenhum deles foi titular no time de Flávio Costa, assim como não o foi Tesourinha - craque cortado da disputa por causa de uma lesão no menisco, quando jogava pelo Vasco da Gama, do Rio. Nena - nascido em Porto Alegre - morreu aos 87 anos, tendo, junto com Adãozinho, participado do Rolo Compressor colorado de 1940 a 45. Nesta reprodução do Correio do Povo noticia-se a convocação dos dois jogadores.

sábado, 21 de julho de 2018


Mister Barrick, o Velho Jack, deixou saudades nos gramados gaúchos



Luís Fernando Veríssimo lembra dele apitando grenais, e o citou em uma de suas crônicas. Carlos Heitor Cony, jornalista e escritor, já falecido, recordava o gol do Brasil contra o Uruguai que ele anulou pela antiga Copa Rio Branco. O certo é que sua figura faz parte da história do futebol gaúcho, brasileiro e sul-americano nos anos que se seguiram ao término da Segundo Guerra Mundial.
Seu nome: Cyril John Barrick, o “velho Jack”, que o Correio do Povo definiu como “o consagrado e fleumático árbitro britânico que tanto bem anda fazendo ao futebol gaúcho”, o “número 1 do mundo”.
Ninguém sabe exatamente – ou talvez alguém ainda saiba – como o “velho Jack” chegou ao Rio Grande do Sul naquela segunda metade dos anos quarenta, já consagrado como um juiz de primeira grandeza no futebol inglês. O que se presume é que numa Inglaterra devastada e empobrecida pela Segunda Grande Guerra ele tenha resolvido procurar trabalho em querências mais pacíficas e ensolaradas e onde o esporte bretão também era amado, o que já acontecia com colegas seus. O velho Jack, a julgar pelas fotos, já deveria contar os seus quarenta e tantos anos quando deixou a Velha Albion castigada pelos bombardeios nazistas e veio para a América do Sul ganhar uns trocados para sustentar a família que ficara na Europa.
O certo é que aqui o “velho Jack” ganhou respeito e deixou saudades por onde passou e apitou, em especial no Rio Grande do Sul, estado que foi, tudo indica, sua porta de ingresso no mundo futebolístico sul-americano. Versátil e disposto a tudo por um punhado de libras que remetia todo mês para a família, Mister Barrick apitou tanto jogos da seleção brasileira como partidas amistosas em surrados e toscos campos de futebol. Ter Mister Barrick apitando era uma espécie de certificado de qualidade. Exótico e famoso, o Velho Jack virava uma atração à parte.
Ao que parece, Mister Barrick foi inicialmente contratado pela Federação Rio-grandense de Futebol para apitar os jogos do campeonato citadino. Mas, malandramente, bem no jeitinho brasileiro, esta passou a emprestá-lo a outros centros do País. Assim o velho Jack apitou nos Eucaliptos, na Baixada, em São Januário, no Pacaembu, no Maracanã, no estádio da Timbaúva, na Chácara das Camélitas, na Colina Melancólica... Apitou jogos do Brasil contra outras seleções e apitou clássicos platinos, onde também tinha fama. A Federação gaúcha o emprestava, cobrava por isso, e nem sempre repassava o dinheiro ao fleumático e tolerante inglês.
Quantos anos ficou Mister Barrick no Brasil? Será que voltou para a sua Inglaterra ou resolveu se aclimatar nos trópicos? O mais provável é que tenha voltado: cansado da desorganização do futebol brasileiro e das promessas não cumpridas, às vezes o Velho Jack botava a boca no trombone, como em abril de 1950, alguns meses antes da Copa no Brasil. Conforme o Correio do Povo noticiou, Barrick estava insatisfeito e, pior, sentia-se explorado pelos dirigentes esportivos gaúchos:
“Por ocasião de sua recente ida a Caxias do Sul, a convite do presidente do Nacional, que é também presidente do Departamento de Futebol da Capital, o laureado apitador britânico queixou-se amargamente da maratona a que estava sendo submetido, atuando várias vezes em uma semana, por ocasião da temporada do Peñarol em nossos gramados. A um dos nossos cronistas, Mister Barrick alegou sentir dores na coxa direita, à altura dos rins, dizendo a impossibilidade em que se achava de continuar a apitar partidas fora dos termos do compromisso, ou seja, mais de três durante uma semana. Mister Barrick chegou a falar em rescisão do contrato, caso fosse obrigado a trabalhar além das suas forças. Agora o Departamento de Futebol da Capital acaba de tomar outra deliberação que está merecendo crítica nos círculos esportivos. É que os clubes uruguaios, Nacional e Peñarol, solicitaram por empréstimo a presença do Velho Jack em campos orientais para um torneio quadrangular que pretendem realizar juntamente com clubes brasileiros. Os maiorais do nosso futebol de pronto aquiesceram, condicionando-o a uma questão de data e, mais, exigiram 25 mil cruzeiros por arbitragem, devendo o apitador, por sua vez, perceber 5 mil cruzeiros em cada uma.”
“Isso quer dizer, pura e simplesmente, que o Departamento de Futebol da Capital resolveu que os clubes uruguaios venham a pagar os honorários de Mister Barrick pelos próximos quatro meses, com a visível economia de 100 mil cruzeiros para os clubes”
E assim conclui o Correio do Povo: “Ora, Mister Barrick não é nenhuma criança, e qualquer dia, quando achar que está sendo mal empregado, não terá dúvida alguma em pedir a rescisão do seu contrato a fim de continuar o seu verdadeiro apostolado esportivo em qualquer outro centro mais adiantado do que o nosso e onde não sirva unicamente de atração para rendas, ou – o que é pior – para evitar que os clubes tenham que entrar com dinheiro para suprir as modestas arrecadações auferidas com as não menos modestas exibições de seus esquadrões de profissionais..." 
É, o Velho Jack, o apitador número 1 do Mundo, deixou saudades em terras gaúchas, mas será que nós deixamos saudades nele?

Força e Luz, outro clube que desapareceu do cenário esportivo de Porto Alegre

Um dos pequenos grandes clubes da capital, o Força e Luz é outra agremiação esportiva que não mais existe. Formado, em sua origem, por funcionários da Carris - empresa pública de bondes - o Força e Luz chegou a ter o melhor estádio de Porto Alegre - localizado onde, dizem, será mais um hipermercado Bourbon, entre a Ipiranga e a Protásio Alves, nas proximidades do quartel dos Bombeiros. O "estádio" da Timbaúva - esse era o nome - sediou grandes jogos, embora fosse uma modestíssima quadra de esportes, como eram todos os centros esportivos da primeira metade do século 20 em Porto Alegre. Mas o "ferrinho" tem suas glórias e sua história, como se vê nesta matéria do Correio do Povo de 1935.

sexta-feira, 20 de julho de 2018


7 de Novembro de 1935: morre Eurico Lara, a lenda tricolor

“Porto Alegre, ontem, quando despertava para a sua atividade diária, recebeu uma notícia contristadora: no hospital da Beneficência Portuguesa, falecera, às 7:10 horas, o grande arqueiro Eurico Lara, indiscutivelmente a maior glória desportiva do Rio Grande do Sul”.
A notícia, publicada com grande destaque na página 9 do Correio do Povo de 7 de novembro de 1935, quinta-feira, tinha um título emblemático que resumia o significado desse homem nascido em Uruguaiana e que se tornou uma lenda do futebol gaúcho: “Eurico Lara, o player mais glorioso do Rio Grande do Sul, faleceu ontem, nesta capital”.
Ontem, no caso, era uma quarta-feira do histórico ano do centenário da Revolução Farroupilha e o Lara imortal que falecia na Porto Alegre de menos de 250 mil habitantes e três emissoras de rádio, contava apenas 37 ou 38 anos de idade – na página da Wikipédia, enciclopédia digital, consta que havia nascido 24 de janeiro de 1897, enquanto os jornais, inclusive o Correio, lhe davam um ano a menos – teria nascido em 1898. Seja como for, em sua curta e gloriosa existência, Eurico Lara Fonseca, casado com dona Maria Cândida e pai da menina Odessa, de 12 anos, defendeu apenas as cores de um clube de futebol – o Grêmio Futebol Portoalegrense, agremiação na qual jogou durante 15 anos e onde era tão amado e idolatrado a ponto de Lupicínio Rodrigues, ao compor o hino tricolor em 1953, ter nele incluído os seguintes versos: “Lara, o craque imortal, soube o seu nome elevar, hoje com o mesmo ideal, nós saberemos te honrar”.
Lara chegou ao Grêmio em 1920, ainda na época romântica em que não havia futebol profissional no Brasil, indicado por olheiros tricolores impressionados com aquele “goal-keeper” do Sport Clube Uruguaiana que pegava todos os chutes e era aplaudido de pé até pelos adversários. Em 1922, já famoso por aqui, foi ao Rio defender o selecionado do Exército nacional nas comemorações esportivas pelo centenário da Independência do Brasil, e saiu-se tão bem que, ao final do torneio, recebeu um telegrama do próprio Ministro militar, cumprimentando-o por sua incrível atuação. Também quase lendários foram os mais de 20 chutes que defendeu de Friendereich, o maior craque e primeiro grande astro esportivo brasileiro. O jogo foi realizado no Parque Antartica entre os selecionados paulista e gaúcho e ao final uma multidão invadiu o gramado para cumprimentar o incrível arqueiro gaúcho capaz de tantas proezas milagrosas.
Em crônica não assinada, publicada no Correio do Povo daquele 7 de novembro de 1935, e intitulada “A Glória de Lara”, um repórter escreveu: “Lara morreu pobre, sem nada deixar além de um nome, na época precisa em que o futebol está recheando o bolso dos utilitaristas. Quando meio mundo se locupleta com os proventos da profissão, o jogador mais querido e mais glorioso dos pampas deixa apenas uma trilha limpa, percorrida à custa de muito sacrifício e de incomum espírito de abnegação e de renúncia. Ídolo brasileiro, acima de tudo, esse moço jamais perdeu a modéstia que trouxe do berço, da gloriosa Uruguaiana. Nasceu pobre para morrer entre os humildes. Vezes sem conta atuou sob influência do mal que lhe minava o corpo. Sob dores hepática, saltava como um felino dentro daquele retângulo que só ele sabia defender. E nunca teve uma imprecação, nem deixou transparecer o menor sofrimento. E ontem finalmente morreu como morrem os bons: sem um gemido, de mansinho, sem mesmo ter tempo para um último gemido. O Rio Grande do Sul, envolto em crepe, antes de chorar canta e exalta no dia de hoje a glória imortal de Eurico Lara.”
Lara tinha tuberculose havia três anos, em um tempo em que não havia penicilina ou estreptomicina e a chamada doença dos poetas e dos artistas dizimava milhões de pessoas em todo o mundo.  Sua última atuação pelo Grêmio foi mais uma página de glória: o histórico Grenal de setembro de 1935, decidindo o campeonato da cidade no ano festivo do centenário da Revolução Farroupilha, vencido heroicamente pelo Grêmio por dois a zero. Lara saiu de campo para ser hospitalizado na Beneficência Portuguesa, onde encerrou a vida como o maior mito da história do imortal tricolor – a bem da justiça, nem Renato Portalupi, ídolo da era modera, o supera na linha do tempo.
No dia 8 de novembro, ainda repercutindo a morte do mito, o Correio do Povo publicou uma foto em que Lara aparece no momento em que sofreu o último gol da sua vida – precisamente o dia 15 de setembro de 1935, data da comemoração dos 32 anos do chamado “clube da Baixada”. Em jogo contra o Força e Luz pelo campeonato da Associação Metropolitana Gaúcha de Esportes Atléticos, AMGEA, uma espécie de liga dos clubes de Porto Alegre e arredores, Lara, atrás de Luiz Luz, não consegue defender o chute de Negrito.
Eurico Lara foi campeão citadino de 1920, 21, 22, 23, 25, 26, 1930, 31, 32, 33 e 35 e campeão gaúcho dos anos de 1921, 22, 26, 1931 e 32. Ídolo das famílias e das crianças, que sonhavam um dia “ser Lara”, foi sepultado com a bandeira do Grêmio e o seu funeral em carro público praticamente parou Porto Alegre. Infelizmente, não existe qualquer registro fonográfico ou cinematográfico deste homem incrível que dizem ter sido o maior goleiro que o Rio Grande do Sul e que entrou para a história como “o goleiro dos goleiros”, simplesmente “a Lenda”.

Ricardo Manhães, Notícias do Dia. A Charge Online.

Nena e Adãozinho, do Inter, no selecionado brasileiro da Copa de 1950

Na primeira Copa do Mundo disputada no Brasil, a de 1950, dois jogadores gaúchos integraram o selecionado nacional que foi vice-campeão mundial: Nena e Adãozinho, ambos do Internacional, não foram titulares. Adãozinho, atacante, integrante do famoso Rolo Compressor do Inter, faleceu aos 66 anos, no estado de São Paulo. Depois da Copa, transferiu-se para o Flamengo, onde ficou até 1953. Nena, ou Olavo |Rodrigues Barbosa, zagueiro, faleceu em 2010, com 87 anos. Os dois nasceram em Porto Alegre. Nena fez história também na Portuguesa, de São Paulo.
Nena, do Rolo Compressor, morreu em Goiânia.

Campeão de 1976, Inter teve apenas três derrotas em um campeonato com 54 equipes


O Sport Clube Internacional sagrou-se bicampeão brasileiro de futebol em 1976, com um timaço que marcou época, comandado pelo paulista Rubens Minelli. Com 19 vitórias, alguns empates e apenas três derrotas, o colorado teve o goleador da competição, Dario, o "Dadá Maravilha", e o melhor jogador, Figueroa. A final foi contra o Corinthias, em um jogo só, no Beira-Rio Lotado, com placar de 2 a 0 para o Inter. 
Por capricho do regime militar, que queria agradar aos Estados, o certame teve 54 equipes participantes, algumas tão inexpressivas como o Confiança, de Sergipe, e o Uberaba, de Minas Gerais. O jogo da decisão final aconteceu a 12 de dezembro e sobre ele escreveu o jornalista Mino Carta, então no Jornal da Tarde e editor da revista Quatro Rodas, ambas de São Paulo. O título era "Se eu fosse marciano não estaria entendendo nada", reproduzido pelo Correio do Povo

Tesourinha, o sorriso largo no craque fabuloso

Tesourinha, em matéria da Revista do Globo de 1946, escrita por Cid Pinheiro Cabral.


17 de junho de 1979, uma noite de sábado para domingo, é uma data triste para o futebol gaúcho e brasileiro. Nesse dia, em Porto Alegre, falecia Osmar Fortes Barcelos, mais conhecido por Tesourinha. Um dos maiores pontas-direitas do futebol brasileiro encerrava a vida com apenas 57 anos, vítima de um câncer no estômago, deixando, atrás de si, uma lenda futebolística e um modelo a ser seguido. Mito do Internacional, carro-chefe do famoso Rolo Compressor que foi hexacampeão gaúcho, de 1940 a 1945, Tesourinha ganhou esse apelido pelo fato de seu pai integrar um famoso bloco carnavalesco da capital, o Tesouras, formado em sua maioria por negros, e que marcou época nos anos 20, 30 e 40. Ele foi o primeiro jogador negro da história do Grêmio Porto-alegrense, onde também jogou, dando fim a um período de discriminação racial no hoje popular e democrático clube gaúcho.
Tesourinha foi campeão sul-americano pela Seleção Brasileira nos anos quarenta, formando ao lado de Heleno de Freitas, Zizinho, Jair e Ademir, e só não participou da malograda Copa do Mundo de 1950 no Brasil, aquela do Maracanaço, por ter estourado os meniscos quando jogava pelo Vasco, clube para o qual se transferiu no início daquele ano, naquela que foi considerada a maior transação do futebol brasileiro da época. Muitos consideram que sua ausência foi uma das causas da perda do título para o Uruguai.
Nascido em 3 de outubro de 1921, de família pobre, no bairro pobre da Ilhota, a primeira grande favela de Porto Alegre, era filho de um motorista e de uma dona de casa. Seu pai faleceu quando ele tinha apenas 12 anos. Começou a jogar futebol em criança, em um dos times da famosa Liga da Canela Preta, uma associação de jogadores de cor que se contrapunha ao racismo imperante no esporte de então. Em 1940 Tesourinha já estava no Internacional de Porto Alegre, onde ficaria por dez anos, formando o temível ataque colorado com Vilalba, Russinho, Ruy e Carlitos. Em 1946, ao final do campeonato sul-americano, atual Copa América, vencido pelo Brasil, Tesourinha foi escolhido pela crítica “o maior ponteiro da América”. Mais tarde ganhou o título de “Craque Melhoral”, distinção concedido por uma empresa de medicamentos ao melhor jogador brasileiro do ano,
Tesourinha foi comprado pelo Vasco no final de 1949, e o Vasco era o mais caro e vitorioso time da época, a base da seleção brasileira. Porém o problema no joelho fez com que pouco durasse em São Januário. Em 1952, já com seus trinta anos, foi contratado pelo Grêmio, Grêmio que no ano seguinte completaria 50 anos de glórias. O garoto pobre da Ilhota voltava à terrinha.
Mas Tesourinha era colorado de coração e foi no Inter onde jogou o fino. Em 1969, quando da inauguração do Gigante da Beira-Rio, foi homenageado pela nação colorada. Com lágrimas nos olhos, retirou, como merecido troféu, as redes das goleiras do velho Estádio dos Eucaliptos, palco das suas grandes atuações pelo Internacional. Defensor da classe esportiva e do futebol varzeano, onde se formou, Osmar Fortes Barcelos foi laureado postumamente com a Copa Tesourinha de Futebol Amador da Federação Gaúcha de Futebol e com um centro esportivo que leva seu nome. Ele sempre dizia, com orgulho: “Vim da várzea, me torneio ídolo e não posso negar meu apoio visando melhorar a estrutura desse futebol varzeano, de onde saem os grandes craques. É lá onde tudo começa”
Logo após a sua morte, em uma crônica no velho Correio do Povo, o jornalista e colorado Valter Galvani fala da honra de ter conhecido Tesourinha, o craque fabuloso, e Osmar Fortes Barcelos, o homem afável de sorriso largo. Menino vindo do interior, lembrando da primeira vez que o viu jogar, Galvani escreveu a 24 de junho de 1979 a crônica “Tesoura, um Certo Sorriso”: “Eu diria que o vi em campo, naquela longínqua tarde de 1944, com o seu largo sorriso. Tesourinha foi um herói a seu modo, um herói modesto, simples e calmo, capaz de levar as plateias até o delírio. Nunca esqueci suas jogadas, mas jamais esquecerei o seu sorriso de bondade.”






Colorados se despedem de Figueroa e Minelli em jogo festivo: dezembro de 1976

Os torcedores colorados mais antigos certamente lembram com saudade da equipe de 1976, bicampeã brasileira consecutiva e, depois, considerada o time da década de 70 pela crítica esportiva. Pois há exatamente 40 anos acontecia o jogo de despedida de dois ícones vermelhos - Dom Elias Figueroa, o zagueiro chileno, e o técnico Rubens Minelli, um paulista que revolucionou o futebol gaúcho. Minelli estava há três anos no Beira-Rio e Figueroa alguns anos mais. Minelli voltava para São Paulo e Figueroa para a sua terra, o Chile, onde jogaria pelo Palestino, um modeste clube que só ganharia dois títulos nacionais - o segundo, em 1978, com dom Elias no comando. . O jogo festivo aconteceria no Beira-Rio, em um domingo, 19 de dezembro, contra o selecionado brasileiro dirigido por Cláudio Coutinho e com a presença do grande craque da época, Zico. O árbitro da partido depois se tornaria comentarista de arbitragem na televisão - José Roberto Wrigh. Reprodução do CP.

Telê Santana chega ao Grêmio, para mudar tudo: setembro de 1976


O Brasil já teve grandes técnicos - técnicos de verdade, não improvisados. Um dos que mais se destacaram foi o mineiro Telê Santana, responsável por tirar o tricolor gaúcho de uma fila de oito anos como vice-campeão estadual, o octa colorado, sempre perdendo para o Internacional no último jogo.
Dispensado pelo Botafogo três meses antes, em setembro de 1976 Telê foi anunciado como o novo treinador gremista, substituindo o interino Paulo Lumumba. Ele implantou uma nova filosofia de trabalho e deu o título de 1977 para o time da Azenha e do Olímpico, reestabelecendo o equilíbrio no futebol gaúcho. Em 1982 Santana foi o técnico da seleção brasileira na Espanha - exibindo um futebol alegre e eficiente que teve o azar fatal de perder para a Itália, com os três fatídicos gols de Paolo Rossi. Reprodução do Correio do Povo, Arquivo Histórico de Porto Alegre.
Tacho, no jornalNH (Novo Hamburgo, RS). A Charge Online.

1953, um ano de ouro para o futebol gaúcho



Reprodução da Revista do Globo, com matéria de Cid.


1953 foi um ano de ouro para o futebol gaúcho, brasileiro e sul-americano. Ou, como escreveu Cid Pinheiro Cabral na Revista do Globo de 17 de outubro de 53, “foi o primeiro grande ano para o futebol profissional de Porto Alegre”. Cabral, na reportagem intitulada “Futebol a Portas Fechadas”, comemorava: “Neste ano atinge o futebol profissional de Porto Alegre uma prosperidade jamais sonhada”. Em seguida, contudo, observou: “Infelizmente, a popularidade alcançada está muito além da capacidade dos nossos estádios”.
O título da matéria “Futebol a Portas Fechadas” era uma referência ao fato de que, pela primeira vez na história futebolística da capital rio-grandense, parte dos torcedores que havia comparecido aos estádios para assistir aos jogos não conseguira entrar, por absoluto esgotamento da capacidade de acomodação nos diminutos e acanhados centros esportivos de então. E prosseguia o cronista: “Antigamente, lá de vez em quando, fechavam os portões em Porto Alegre antes das 14 horas. Mas isso só acontecia nos clássicos transcendentais, como Grêmio X Internacional, realizados em estádios que mal comportavam 10 mil pessoas. Em 1953, não. Em 1953, por ocasião do centésimo trinta Grêmio X Internacional, os portões do estádio dos Eucaliptos, com 22.500 expectadores, fecharam-se na cara de uns 2 mil a mais. E pela primeira vez isso aconteceu também em outros jogos.” Cid destacava o fato de a disputa Internacional versus Nacional (o da Chácara das Camélias) ter recebido cerca de 12 mil pessoas “em um estádio longínquo e sem acomodações, e ficaram na rua 2 mil retardatários”. O fenômeno se repetiu em outra partida – Internacional versus Força e Luz, o jogo do líder invicto contra o último colocado. Também a partida entre Renner e Internacional teve lotação esgotada.
Segundo o jornalista, “chegou, portanto, a hora de Porto Alegre – a hora do futebol a portas fechadas. Por paradoxal que pareça, futebol a portas fechadas quer dizer super popularidade. E super popularidade, em linguagem profissionalista, é um estado de bem aventurança.”
O fato do Grêmio estar quase concluindo as obras do Olímpico chegava em excelente hora, festejava o cronista: “A sorte de Porto Alegre é que o estádio do Grêmio Porto-alegrense, que abrigará, concluída a primeira parte do projeto, umas 35 mil pessoas, está andando a passos de gigante. A sorte é que o Internacional, cujo estádio na situação atual, apanha no máximo 23 mil pessoas, promete para breve uma nova forçada, no sentido de concluir o seu pavilhão central, o que ampliará em 12 mil a sua capacidade.”
É importante salientar que o futebol no Rio Grande do Sul, em 1953, tinha apenas meio século anos de existência esportiva e que só haviam sido realizadas quatro copas do mundo. Em todo o mundo, aliás, pela primeira vez se descobrira que ele, à exceção de alguns países, era agora o esporte mais popular de todos, superando o boxe, o remo e até o turfe.
Logo na abertura da sua matéria, Cid Pinheiro Cabral diz: “Positivamente, a loucura do futebol chega ao auge”, lembrando que, durante a construção do Maracanã, muitos dos seus idealizadores estimavam que o hoje Maraca só lotaria dali a muitos anos, o mesmo acontecendo com o Pacaembu, este com capacidade para 80 mil pessoas. E no entanto os dois já tinham lotado seus jogos muitas vezes nos últimos anos.
O fenômeno não era brasileiro e sim sul-americano, apontava o jornalista: “Eis que agora começa o problema a afligir também os mentores do futebol uruguaio, argentino e chileno. O Estádio Municipal de Santiago, remodelado em 1945 para o Campeonato Sul-Americano (atual Copa América), não corresponde mais ao interesse que está despertando, no Chile, o mais popular dos esportes.”
E prosseguia em sua matéria na Revista do Globo daquele ano de 53: “A Argentina tem dois grandes estádios recentemente construídos – o do Racing e o do Huracan. Mas ainda o do River Plante conserva a primazia. É o mais amplo mas começa a tornar-se pequeno. Mas também o velho estádio Centenário, inaugurado em Montevidéu por volta de 1930 sem estar concluído, torna-se objeto de atenção dos dirigentes do futebol uruguaio. Já não comporta mais o interesse que certas temporadas internacionais começam a despertar e por isso vai ser ampliado em mais 30 mil lugares.”
Fechando sua matéria “Futebol a Portas Fechadas”, Cid Pinheiro Cabral ironizava, um tanto acidamente: “Ao depararmos com esse espetáculo – que é continental – da luta da popularidade do futebol contra a relativa exiguidade dos estádios, lembramo-nos daqueles apressados e mal inspirados profetas que, por volta de 1933-34, preconizavam o fim do futebol no Brasil por haver cometido o imperdoável pecado de profissionalizar-se. Paz à alma dos que já morreram.”

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Mino Carta e o Inter de 1976: se fosse marciano, não estaria entendendo nada...


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Em 12 de dezembro de 1976, quando o Internacional conquistou o bicampeonato brasileiro e, pela segunda vez, o respeito e a admiração de todo o Brasil ao vencer o Corinthians por 2 a 0 no Beira-Rio, o jornalista Mino Carta – então um dos mais admirados homens de imprensa do País, fundador do Jornal da Tarde, da revista Quatro Rodas, ex-editor da Veja e já então comandando a recém fundada Istoé – escreveu para a Folha de São Paulo uma crônica daquela final que ele julgava “histórica”. Mino Carta pouco entendia de futebol e não costumava se aventurar nesse campo. Mas, depois de assistir à partida entre gaúchos e paulistas, ele garantiu “Se fosse marciano, não estaria entendendo nada” – este o título do seu trabalho, que merece ser transcrito tantos anos depois. O texto é quase literário, faz referências veladas à situação política da época e compara o futebol do Inter com o moderno futebol europeu.
Assim o jornalista descreveu o que viu aquela tarde no Gigante da Beira-Rio: “O calor é tropical mas o panorama que cerca o Beira-Rio, apinhado de elevações bem penteadas, poderia ser europeu. Falta ao cenário deste jogo um toque luxuriante, uma reminiscência, ao menos, de mato desvairado, como talvez conviesse ao supremo conflito das esperanças nacionais. Alguém, leitor de bons livros e frequentador do raciocínio límpido, me dizia ainda ontem que o corintianismo, esse singular e forte sentimento que tomou conta da nação, é a forma mais eficiente de solidariedade hoje no Brasil. Diga-se que se trata de alta autoridade da política situacionista. Pois a oportunidade de pôr à prova essa solidariedade, o momento em que ela é confrontada, talvez merecesse um palco tropical. Em compensação, há muito de surrealismo no clima do estádio e nas bombas e nas bandeiras das torcidas, frenéticas quando a esperança entra em campo. Um marciano ficaria pasmo.”
E prossegue o jornalista: “Mas a torcida colorada não é a do Fluminense, nem Porto Alegre é como o Rio. O Beira-Rio é diferente do Maracanã. O estádio pulsa com os gritos dos homens que são “machos” – e pronuncie a palavra com o sotaque dos pampas. O Corinthians hoje exibe-se numa ribalta muito pouco corintiana.
“E o Corinthians começa tímido, o Inter agride a bola com fúria vermelha. Os colorados estão em todas as divididas. Aos 10 minutos o Corinthians praticamente ainda não saiu do seu campo. Parece um encontro entre o mais recente futebol europeu e o mais tradicional sul-americano. Falcão domina o centro do campo e sua passada lembra Beckenbauer. A defesa corintiana está confusa, a bola filtra nela como um peixe numa rede lacerada. Falcão está em todos os lugares, finta Vaguinho no bico da área, enfia a bola entre as pernas de Romeu e sai com os cabelos ao vento.
Em seguida Mino Carta descreve o primeiro gol do Inter:
“E quase aos 29 minutos vem, inexoravelmente, o gol do Inter. Nasce dos pés de Valdomiro que já foram infelizes no mundial de 74. Mas o seu chute é sempre potente. E uma falta de Zé Maria no onipresente Falcão, que amaciou a sua amada no peito, na boca da área, Valdomiro bate, o tiro ricocheteia na barreira, sobe a bola maligna para a cabeça de Dario e é gol. Onde estão os orixás? Estão chorando, suponho. Mas os deuses da fúria gaúcha sorriem. Voltam a sorrir oito minutos depois, quando o Corinthians perde um gol que parecia decretado. A bola passa por vários pés corintianos, mas ninguém chuta enquanto Manga já está no chão, batido. Os deuses gaúchos estão segurando estas chuteiras lerdas. A torcida corintiana de vez em quando ergue-se e agita as suas bandeiras. Mas esses instantes são cada vez mais raros, nesse primeiro tempo. Nele ficaram evidentes, para mim, duas coisas. Primeira, que Russo é um gladiador tropical, um homem cheio de fé e uma musculatura disforme, talvez porque feita de arroz e feijão. Segunda, porque Falcão não é Rivelino, Falcão é “macho”.
Agora Mino carta descreve o segundo tempo da partida: “Mas no segundo tempo a torcida corintiana e seu time sabem que agora é tudo ou nada. Será que os orixás sabem? Os deuses dos pampas sabem de certo quando desviam de leve a falta cobrada por Romeu e fazem com que a bola se choque com o travessão para que a desdita corintiana seja mais gorda. Em campo há muitas faltas, nas arquibancadas muitos gritos e gestos de raiva e tensão. E numa dessas faltas, na entrada da área corintiana, aos 12 minutos Valdomiro cobra por sobre a barreira e os deuses colorados reaparecem e em tempo abaixam, sempre de leve, a trajetória do chute, e fazem com que bata na parte inferior do travessão, e quique depois dentro do gol, poucos centímetros além da chamada linha fatal. Centímetros? Milímetros, para a desdita alvinegra continuar engordando. Os corintianos protestam, cercam o juiz, e um bolo de gente forma-se numa das extremidades da divisória do campo, e lá se discute, aos berros, aos empurrões, se a bola entrou ou não. Entrou, entrou, a sentença é irremediável, e o bolo se desfaz e o jogo recomeça com dois a zero no marcador.
“Ah, se eu fosse marciano me perguntaria se tanta energia não poderia ser canalizada para outras empreitadas, mais proveitosas do que esta, capaz de criar raivas e alegrias tão grandes, no peito de cada um e de todos, e tão inúteis. E voa uma garrafa em campo e fogos são dirigidos contra o gramado que já não brilha ao sol. No ocaso as garrafas chovem e o jogo para de novo, o campo é invadido por dirigentes, repórteres, alguns assistentes dispostos a pular o alambrado, policiais e seus cachorros. Ah, se eu fosse um marciano não estaria entendendo coisa alguma.
“O vento não agita mais as bandeiras corintianas, talvez elas estejam molhadas pelo pranto dos que vieram até o Beira-Rio e de todos aqueles milhões que neste momento estão diante do vídeo ou com os ouvidos colados em um rádio de pilha, alimentando a mesma fé rigorosamente desperdiçada. Eles talvez estejam anotando um nome, o do bandeirinha que confirmou o segundo gol colorado. Que os fados se compadeçam dele.
“O jogo recomeça mas a sorte está selada. A pressão corintiana serve apenas para mostrar a força dos deuses gaúchos e as habilidades de um velho profissional da bola, o goleiro Manga. O jogo acabou, a solidariedade desfeita se recompõe em torno daqueles que ainda saberão esperar por uma vitória. Não tenho dúvidas sobre o caráter histórico deste jogo. É mais uma derrota de uma antiga e nebulosa esperança. Mas valeria a pena ganhar.”

Frindenreich, o mito, em Porto Alegre, aos 51 anos: outubro de 1953

Arthur Friendenreich, filho de pai alemão e mãe negra, foi o primeiro grande astro do futebol brasileiro e um dos jogadores mais habilidosos de todos os tempos - dizem aqueles que o viram jogar, especialmente no Paulistano e no São Paulo. Nascido em 18 de julho de 1892 - portanto, faria 126 anos este mês - El Tigre - Friendenreich foi um centro-avante de rara inteligência, tendo feito muitos gols entre as décadas de 10 e 30 do século passado, quando abandonou o futebol, já devido à idade e ao fato de não concordar com a profissionalização da atividade. Pertencente à época romântica do "esporte bretão", não ganhou nenhum dinheiro com o futebol, tanto que, ao se afastar dos campos, passou a trabalhar em uma fábrica de bebidas. Morreu em setembro de 1969, morando em uma casa que o São Paulo, clube, lhe havia dado. 
Em outubro de 1953, já com 51 anos de idade, Friendenreich esteve em Porto Alegre, onde assistiu a um jogo do Grêmio contra o Floriano (Novo Hamburgo) e foi alvo de uma série de homenagens. A reprodução acima é da Revista do Globo. El Tigre faleceu em 1969, aos 77 anos

Santos Vidarte, o grande mestre da fotografia



Na foto, Santos Vidarte aparece ao lado do jornalista Flávio Alcaraz Gomes, na última grande cobertura dois dois, feita em 1972, na Transamazônica. A reprodução é do Correio do Povo, em matéria que Alcaraz homenageia o amigo falecido dias antes.

Ele marcou época na imprensa gaúcha e foi reconhecido como um dos mais brilhantes e queridos repórteres fotográficos que já passaram pelo Rio Grande. Seu nome: Santos Vidarte.  Uruguaio nascido na cidade de Durazno a 6 de janeiro de 1911, Vidarte tornou-se um ícone na fotografia a partir de agosto de 1930, quando, com apenas 19 anos, entrou para a Companhia Jornalística Caldas Júnior para dela nunca mais sair, até o instante da sua morte, no dia 26 de junho de 1975, quando tinha apenas 64 anos.
Era uma quinta-feira e Santos Vidarte preparava-se para começar a trabalhar na sua função de chefe do departamento fotográfico do Palácio Piratini, atividade que dividia com o Correio do Povo, onde mantinha-se como supervisor. Também lecionava na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a Fabico. Em tratamento médico havia alguns anos, o veterano fotógrafo insistia em não parar quando, sem nenhum aviso, como um clique final, foi traído pelo próprio coração. Atendido sem sucesso por dois médicos do Palácio, faleceu de fulminante ataque cardíaco, dando fim a uma carreira de quase cinquenta anos que teve muitos momentos gloriosos e muitas, muitas histórias.
Percorrendo milhares de quilômetros de carro, avião, barco ou em lombo de burro, de início com uma pesada câmera americana Speed Graphic e depois com a velha Rolleiflex alemã, Santos Vidarte ganhou notoriedade ao fotografar o afundamento do encouraçado nazista Graf Spee, no porto de Montevidéu. Era a célebre Batalha do Prata, em dezembro de 1939, início da Segunda Grande Guerra. Na Copa do Mundo de 1950, realizada no Brasil, foi companheiro de outro grande mestre, este do jornalismo esportivo: Cid Pinheiro Cabral.
Naturalizado brasileiro, casado com dona Léa Bernardi Vidarte, tinha uma filha, Maria Clara, e outras grandes paixões além da fotografia e da família: a pesca, na plataforma de Cidreira, e a culinária na sua casa da praia. Em uma página no Correio do Povo dominical, inteiramente dedicada ao amigo que acabara de falecer, o jornalista Flávio Alcaraz Gomes escreveu, sob o título A Última Jornada, reportando-se à derradeira grande cobertura jornalística de Vidarte, feita pelos dois três anos antes, na rodovia Transamazônica, empreendimento mal sucedido do Milagre Brasileiro:
“ – Meu Pai e o Arlindo Pasqualini garantiam sempre: - Para companheiro de viagem, ninguém como o Santos.
Diz Alcaraz: “Em tudo o Santos era uma mistura de jovem repórter e de irmão mais velho. Mal clareava o dia e já estava ele de pé, ensinando os cozinheiros do acampamento a nos servir um café igual ao dos grandes hotéis. Ao jantar, ele continuava a nos orgulhar, me orgulhava menos pelos banquetes que preparava do que por sua conversa boa de homem bom.” 
No mesmo domingo, em sua coluna Ribalta das Ruas, o jornalista Antonio Carlos Ribeiro, já falecido, fala do “Tio Santos”, termo carinhoso para descrever um sentimento de carinho e gratidão para com o grande mestre: “Há sujeitos que marcam sua passagem, e o velho e querido tio Santos foi um deles. Ensinou-nos a nadar, a pescar e, principalmente a fazer as coisas “bem-feitamente”. Pouca gente terá sido tão fraternalmente amada. Ele exercia sobre nós uma liderança natural e tranquila e sabia como poucos tornar inesquecível uma foto, fosse do afundamento do Graf Spee, fosse de uma nuvem de gafanhotos ou de uma criança brincando na areia. Fez isso por quase 50 anos, com rara vitalidade e infinito amor”.
Sepultado no cemitério ecumênico João 23, o mestre Santos Vidarte teve, afinal, as honras que mereceu com sobras. Um público numeroso foi ao cemitério prestar sua homenagem ao grande ícone da reportagem fotográfica. Estavam lá o governador Sinval Guazeli, o seu vice Amaral de Souza, o ex-prefeito e duas vezes governador do Rio Grande do Sul Ildo Meneghetti, o cardeal-arcebispo de Porto Alegre, Dom Vicente Scherer, a direção da Companhia Jornalística Caldas Júnior, deputados, vereadores, professores, colegas jornalistas e fotógrafos e muitos admiradores. O mito do futebol gaúcho, Tesourinha, que Santos Vidarte tantas vezes fotografara, era um deles. Naquele dia, de luto, a Câmara Municipal de Porto Alegre suspendeu sua sessão. Entre os convites para o enterro publicado nos jornais daquela sexta estava o do Clube de Pesca Anzol de Ouro, do qual fora presidente e sócio-fundador. Assim era Santos Vidarte, homem simples, leal e talentoso.