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quinta-feira, 19 de julho de 2018

Santos Vidarte, o grande mestre da fotografia



Na foto, Santos Vidarte aparece ao lado do jornalista Flávio Alcaraz Gomes, na última grande cobertura dois dois, feita em 1972, na Transamazônica. A reprodução é do Correio do Povo, em matéria que Alcaraz homenageia o amigo falecido dias antes.

Ele marcou época na imprensa gaúcha e foi reconhecido como um dos mais brilhantes e queridos repórteres fotográficos que já passaram pelo Rio Grande. Seu nome: Santos Vidarte.  Uruguaio nascido na cidade de Durazno a 6 de janeiro de 1911, Vidarte tornou-se um ícone na fotografia a partir de agosto de 1930, quando, com apenas 19 anos, entrou para a Companhia Jornalística Caldas Júnior para dela nunca mais sair, até o instante da sua morte, no dia 26 de junho de 1975, quando tinha apenas 64 anos.
Era uma quinta-feira e Santos Vidarte preparava-se para começar a trabalhar na sua função de chefe do departamento fotográfico do Palácio Piratini, atividade que dividia com o Correio do Povo, onde mantinha-se como supervisor. Também lecionava na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a Fabico. Em tratamento médico havia alguns anos, o veterano fotógrafo insistia em não parar quando, sem nenhum aviso, como um clique final, foi traído pelo próprio coração. Atendido sem sucesso por dois médicos do Palácio, faleceu de fulminante ataque cardíaco, dando fim a uma carreira de quase cinquenta anos que teve muitos momentos gloriosos e muitas, muitas histórias.
Percorrendo milhares de quilômetros de carro, avião, barco ou em lombo de burro, de início com uma pesada câmera americana Speed Graphic e depois com a velha Rolleiflex alemã, Santos Vidarte ganhou notoriedade ao fotografar o afundamento do encouraçado nazista Graf Spee, no porto de Montevidéu. Era a célebre Batalha do Prata, em dezembro de 1939, início da Segunda Grande Guerra. Na Copa do Mundo de 1950, realizada no Brasil, foi companheiro de outro grande mestre, este do jornalismo esportivo: Cid Pinheiro Cabral.
Naturalizado brasileiro, casado com dona Léa Bernardi Vidarte, tinha uma filha, Maria Clara, e outras grandes paixões além da fotografia e da família: a pesca, na plataforma de Cidreira, e a culinária na sua casa da praia. Em uma página no Correio do Povo dominical, inteiramente dedicada ao amigo que acabara de falecer, o jornalista Flávio Alcaraz Gomes escreveu, sob o título A Última Jornada, reportando-se à derradeira grande cobertura jornalística de Vidarte, feita pelos dois três anos antes, na rodovia Transamazônica, empreendimento mal sucedido do Milagre Brasileiro:
“ – Meu Pai e o Arlindo Pasqualini garantiam sempre: - Para companheiro de viagem, ninguém como o Santos.
Diz Alcaraz: “Em tudo o Santos era uma mistura de jovem repórter e de irmão mais velho. Mal clareava o dia e já estava ele de pé, ensinando os cozinheiros do acampamento a nos servir um café igual ao dos grandes hotéis. Ao jantar, ele continuava a nos orgulhar, me orgulhava menos pelos banquetes que preparava do que por sua conversa boa de homem bom.” 
No mesmo domingo, em sua coluna Ribalta das Ruas, o jornalista Antonio Carlos Ribeiro, já falecido, fala do “Tio Santos”, termo carinhoso para descrever um sentimento de carinho e gratidão para com o grande mestre: “Há sujeitos que marcam sua passagem, e o velho e querido tio Santos foi um deles. Ensinou-nos a nadar, a pescar e, principalmente a fazer as coisas “bem-feitamente”. Pouca gente terá sido tão fraternalmente amada. Ele exercia sobre nós uma liderança natural e tranquila e sabia como poucos tornar inesquecível uma foto, fosse do afundamento do Graf Spee, fosse de uma nuvem de gafanhotos ou de uma criança brincando na areia. Fez isso por quase 50 anos, com rara vitalidade e infinito amor”.
Sepultado no cemitério ecumênico João 23, o mestre Santos Vidarte teve, afinal, as honras que mereceu com sobras. Um público numeroso foi ao cemitério prestar sua homenagem ao grande ícone da reportagem fotográfica. Estavam lá o governador Sinval Guazeli, o seu vice Amaral de Souza, o ex-prefeito e duas vezes governador do Rio Grande do Sul Ildo Meneghetti, o cardeal-arcebispo de Porto Alegre, Dom Vicente Scherer, a direção da Companhia Jornalística Caldas Júnior, deputados, vereadores, professores, colegas jornalistas e fotógrafos e muitos admiradores. O mito do futebol gaúcho, Tesourinha, que Santos Vidarte tantas vezes fotografara, era um deles. Naquele dia, de luto, a Câmara Municipal de Porto Alegre suspendeu sua sessão. Entre os convites para o enterro publicado nos jornais daquela sexta estava o do Clube de Pesca Anzol de Ouro, do qual fora presidente e sócio-fundador. Assim era Santos Vidarte, homem simples, leal e talentoso.

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